segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sobre a Missa, a lei da Igreja é clara em defini-la:

“Cân. 897 – Augustíssimo sacramento é a santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O sacrifício eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam.” (Código de Direito Canônico)

Por ter o homem pecado em Adão e Eva, a consciência do erro que o afastou de Deus foi passada de geração a geração por toda a humanidade. O homem sabe que, no fundo, está afastado da divindade e que precisa fazer algo para suprir a lacuna entre eles. A própria Lei Natural, inscrita no coração de todas as pessoas, e que não foi afetada pelo pecado original praticado por nossos primeiros pais, afirma a necessidade de ser construída uma ponte entre Deus e o homem. É preciso, sabe o homem, um meio de unir o divino ao humano, de recuperar a amizade entre os dois!

Nesse sentido, procurou o homem oferecer sacrifícios que o unisse novamente a Deus. Muitas vezes, cego pelo pecado que lhe confundiu a razão, ofereceu sacrifícios totalmente contrários à vontade do Criador, como holocaustos humanos. Entretanto, não podemos deixar de ver nessa atitude ilícita e totalmente imoral um desejo humano de reconciliar-se com Deus ou, ao menos, aplacar a (justa) ira divina em virtude de seus pecados.

Para preparar a vinda de Cristo, o Pai formou, em determinado momento da História, um povo, e o elegeu. Esse povo, Israel, foi iniciado em Abraão, e consolidou-se nos patriarcas, Isaac e Jacó, com seus filhos, fundadores das doze tribos da nova nação, libertada, anos mais tarde, do jugo dos senhores egípcios que a escravizavam. Moisés, o líder dessa libertação, prefigurava o próprio Jesus, preparando-O!

Já na primeira fase de Israel enquanto nação ofereciam-se sacrifícios pelos pecados, procurando agradar a Deus. Ele mesmo os exigia, já ensinando o povo que a ponte precisava ser reconstruída, e o pecado desfeito!

Mais tarde, com Moisés, um rito foi instituído pelo próprio Deus, de forma a incutir ainda mais na mente dos israelitas toda a pedagogia do sacrifício, e os preparando para o sacrifício definitivo oferecido por Cristo, séculos depois. O cordeiro sacrificado no rito mosaico simbolizava, antecipadamente, Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O ritual da primeira ceia mosaica (cf. Ex 12,1-8.11-14) já se mostra um grandioso símbolo da Paixão do Salvador. Sacrifica-se um cordeiro macho e sem defeito, no lugar dos pecados do povo de Israel; Cristo, mais tarde, será identificado por São João Batista como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1,29), o Agnus Dei, e morrerá, também sem “defeito” (ou seja, sem pecado, puro, santo, agradável ao Pai) pelas faltas do Novo Israel, a Igreja de Deus, santa e católica. O sangue do cordeiro untado nas casas os assinalaria perante o anjo da morte como os escolhidos para a vida; o Sangue de Nosso Senhor e Salvador, derramado na Cruz e aspergido em nós pela fé e pelos sacramentos, nos assinala como os eleitos para a vida eterna. A Páscoa judaica foi dada como instituição perpétua; essa perpetuidade foi dada por excelência quando Cristo morreu e instituiu a Eucaristia como Nova Páscoa, sinal vivo e presente de Sua Morte e Ressurreição, como um holocausto permanente, conforme já previra o profeta Daniel (cf. Dn 8,11;9,27).

Quando Cristo veio ao mundo, antes de oferecer-Se em sacrifício na Sexta-feira Santa, celebrou uma ceia com Seus Apóstolos, na noite anterior. Essa ceia foi uma antecipação mística e real do sacrifício oferecido no dia seguinte.

Na Última Ceia, Jesus antecipou Seu sacrifício, instituindo-o como perpétuo através do oferecimento de Seu Corpo e Seu Sangue. O mesmo Corpo morto na Cruz e o mesmo Sangue derramado foram distribuídos aos Seus Apóstolos, numa verdadeira antecipação do sacrifício.

Além de antecipar o sacrifício, vimos, Jesus Cristo tornou-o perpétuo, quando mandou: “fazei isto em memória de mim.” (Lc 22,19)

Assim, os Apóstolos e seus sucessores devem obedecer ao mandamento de Jesus e fazer o que Ele ordenou: realizar o sacrifício! Se o sacrifício pôde ser antecipado, pode também, por ter-se tornado perpétuo, ser oferecido continuamente. Não se trata de um novo sacrifício, eis que o de Cristo foi definitivo e suficiente, mas do mesmo novamente tornado presente pelos Apóstolos, seus sucessores e os colaboradores destes.

O sacrifício de Jesus Cristo foi oferecido na Cruz, e é tornado novamente presente em cada Missa celebrada. Missa, portanto, é um dos nomes que nós damos ao sacrifício da Cruz tornado novamente presente diante de nós.

A Santa Missa é o mesmo, único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário, pelo perdão de nossos pecados, tornado real e novamente presente, ainda que de outro modo, incruento, no altar da igreja pelas mãos do sacerdote validamente ordenado.

Mesmo, único e suficiente: a Missa não é um novo sacrifício para saldar nossa dívida para com Deus. Oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário: a Missa é o mesmo sacrifício da Cruz, não um outro. Pelo perdão de nossos pecados: como a Cruz foi a causa de nosso perdão, merecendo-nos a graça de Deus, assim também é a Missa. Tornado real e novamente presente: a mesma Cruz é tornada presente diante de nós, pois para Deus não há limite de espaço ou tempo. Ainda que de outro modo, incruento: na Cruz, Cristo derramou Seu Preciosíssimo Sangue; na Santa Missa, a Cruz é tornada novamente presente, mas de outro modo, sem derramamento de Sangue – não é, repetimos, uma nova morte de Cristo, mas a mesma e única, porém de modo incruento. No altar da igreja: todo sacrifício precisa de um altar; a Cruz foi o altar onde Cristo ofereceu o sacrifício de Seu Corpo Santíssimo; na Missa não há uma Cruz física onde Cristo deva morrer, mas um altar onde é celebrado o sacrifício e os dons são oferecidos. Pelas mãos do sacerdote: num sacrifício, além do altar, é preciso uma vítima e um sacerdote, i.e., um sacrificador; quando o altar foi a Cruz, Jesus Cristo foi a Vítima, mas também o Sacerdote, pois ninguém O matou, antes Ele mesmo Se entregou à morte por nós; na Santa Missa, se o altar é o da igreja, e a vítima é Cristo, eis que o sacrifício é o mesmo, também há identidade quanto ao sacerdote, o sacrificador. Validamente ordenado: Jesus mandou que os Apóstolos realizassem o sacrifício feito na Cruz e antecipado na última Ceia, e eles passaram o mandato a seus sucessores e aos colaboradores destes; os sucessores dos Apóstolos são os Bispos, e os colaboradores os padres, unidos a Cristo pelo sacramento da Ordem.

“Este aspecto de caridade universal do sacramento eucarístico está fundado nas próprias palavras do Salvador. Ao instituí-lo, não Se limitou a dizer 'isto é o meu corpo', 'isto é o meu sangue', mas acrescenta: 'entregue por vós (...) derramado por vós' (Lc 22, 19-20). Não se limitou a afirmar que o que lhes dava a comer e a beber era o seu corpo e o seu sangue, mas exprimiu também o seu valor sacrifical, tornando sacramentalmente presente o seu sacrifício, que algumas horas depois realizaria na cruz pela salvação de todos. 'A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrifical em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor'. A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. Com efeito, 'o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício'. Já o afirmava em palavras expressivas S. João Crisóstomo: 'Nós oferecemos sempre o mesmo Cordeiro, e não um hoje e amanhã outro, mas sempre o mesmo. Por este motivo, o sacrifício é sempre um só. [...] Também agora estamos a oferecer a mesma vítima que então foi oferecida e que jamais se exaurirá'. A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. O que se repete é a celebração memorial, a 'exposição memorial' (memorialis demonstratio), de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo. Portanto, a natureza sacrifical do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário.” (Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 12)

“O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. 'Uma... e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é diferente apenas, o modo de fazer a oferta.'” (Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, 61)
O sacerdote que celebra o Santo Sacrifício da Missa deve participar como sacrificador. E nessa função ministerial, a mais sagrada e a mais excelsa que possa existir, o sacerdote deve ter consciência de que faz as vezes de Jesus Cristo, Nosso Senhor; melhor, o próprio Salvador age através do padre. Portanto, deve o celebrante estar revestido das disposições próprias do Coração de Cristo, e unir-se a Ele mediante uma sincera devoção e uma piedade verdadeira e desinteressada. Deve desejar, de toda a sua alma, emprestar seus gestos e sua fala a Jesus para que assim, agindo in Persona Christi, melhor celebre tão santos mistérios. É nesse sentido que há uma oração no Ordinário na Missa em rito romano que o sacerdote reza durante o Ofertório, silenciosamente, e que resume bem essa intenção do celebrante de estar arrependido de seus pecados e de oferecer um sacrifício agradável a Deus: “De coração contrito e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.” (Missal Romano; Ordinário da Missa; Preparação das Oferendas)

O fiel, por sua vez, participa da Santa Missa assistindo-a com toda a vontade de unir-se aos sentimentos de Cristo. Se não pode, como o padre, ser o próprio Jesus oferecendo-Se na Cruz, deve, então, assistir o maravilhoso espetáculo do sacrifício de um Deus-homem que morre por nossos pecados com a disposição de alma de quem aspira imitar aqueles santos que estiveram aos pés do Calvário. A Cruz torna-se presente na Missa, e porquanto naquela estavam presentes a Santíssima Virgem e o discípulo amado, São João, o Apóstolo e Evangelista, quando estamos assistindo o Santo Sacrifício devemos ter as mesmas atitudes de ambos. Certamente, não estavam Nossa Senhora nem São João batendo palmas: sua alegria pela salvação que se operava era interna, e se misturava com uma viva dor pelos pecados da humanidade, cometidos de tal forma que fizeram Deus sofrer e derramar Seu Sangue por nós. Imitando os sentimentos e atitudes de São João e da Virgem Maria aos pés da Cruz, estamos participando da Missa de um modo santo e salutar.

Praticamente, isso consiste em ficar atento em cada detalhe, acompanhar as orações do sacerdote com o coração ao menos – pois que nem sempre, pela diferente cultura teológica de cada um do povo, podemos entender perfeitamente as precisões litúrgicas –, e cumprir os ritos prescritos pela sabedoria multissecular da Santa Igreja. Mais do que tudo deve o fiel oferecer durante a Missa todo o seu ser para que, unido a Cristo, seja também ofertado ao Pai na hora do sacrifício.

São Leonardo de Porto Maurício, ardoroso apóstolo da Santa Missa, nos dá seu ensino, ainda bastante atual:

“Eis o meio mais adequado para assistir com fruto a Santa Missa: consiste em irdes à igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar como o faríeis diante do Trono de Deus, em companhia dos santos anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos.” (São Leonardo de Porto Maurício. Tesouro Oculto)

O sacerdote, antes de celebrar a Santa Missa, deve dizer algumas orações, como as previstas pela liturgia da Igreja. Elas ajudam-no a melhor se preparar para oferecer tão augusto sacrifício a Deus, Nosso Senhor. Entre elas, contam-se aquela na qual o celebrante pede a graça de bem celebrar e dispõe-se a oferecer a Missa segundo o rito e a intenção da Santa Igreja. Outras, ajudam-no a dispor sua alma para penetrar no tremendo mistério da Santa Missa.

O fiel participante da Missa é convidado a também rezar algumas orações, antes de começar a celebração, preparando sua alma para receber os efeitos do sacrifício e do sacramento.

“Cân. 898 – Os fiéis tenham na máxima honra a santíssima Eucaristia, participando ativamento do augustíssimo Sacrifício, recebendo devotíssima e freqüentemente esse sacramento e prestando-lhe culto com suprema adoração (...).” (Código de Direito Canônico)
Na prática

1. Institua-se, na paróquia, uma Escola de Liturgia, na qual se estudarão os documentos da Igreja sobre o assunto, não a opinião de teólogos modernistas e liturgistas que não se preocupam com a tradição da Igreja. Menos Ir. Ione Buyst, OSB, Fr. Alberto Beckhauer, OFM, D. Clemente Isnard, OSB, e Ir. Miriam Kolling, FSP... Mais Bento XVI, Mons. Peter Elliot, Romano Guardini, Denis Crouan, D. Alcuin Reid, OSB, Pe. Michael Lang, Mons. Klaus Gamber, D. Prosper Guerangér, OSB e Pe. Adrian Fortescue.
2. Promovam-se “Semanas da Liturgia”, com palestras de pessoas preparadas, e afinadas com o Magistério e a Tradição, com respeito pelas normas.
3. Nas aulas de catequese, e em todos os grupos, insista-se no caráter sacrifical da Santa Missa. Assista-se, em grupo, ao filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, fazendo a ligação entre a Cruz e a Missa.

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